domingo, 3 de maio de 2009

TUDO OU NADA


Tudo ou nada é quando decidimos nossas vidas. Não vivemos o tempo todo um estado de "tudo ou nada!". Quando realmente nos transformamos, não restam dúvidas do momento desse estado em que tudo passa a valer a pena, nada pode mais nos parar e até mesmo a certeza do sofrimento não nos faria retornar.

Sentimos o "tudo ou nada" à medida que decidimos não mais continuar na mesma empresa. Quando nos desiludimos completamente com um grupo de dirigentes, com o presidente da organização ou com os seus acionistas.

O tudo ou nada acontece na nossa vida conjugal, quando a admiração pela outra pessoa desaparece, quando não nos orgulhamos mais da nossa mulher, do nosso homem. O tudo ou nada das nossas transformações se revela quando precisamos sair da casa dos pais, não queremos mais as velhas amizades, saímos da cidade, do bairro, do país, ou do lado do mundo onde nascemos.

O tudo ou nada é uma transformação. E, como toda transformação ela sempre dói. As águias se descascam, tiram as próprias penas. As cobras trocam de pele e, nós, seres humanos, vamos substituindo as nossas cascas finas psicológicas, engrossando a casca das nossas couraças antidores e vamos crescendo. Mas os grandes seres humanos são aqueles que permanecem no estágio "Che Guevara" da evolução: devemos endurecer, mas sem perder jamais a ternura. Cascas grossas sim, mas sensibilidades tenras e finas, cada vez mais.

Sem tudo ou nada não existe passagem. Não existe vida. O tudo ou nada é quando matamos vidas envelhecidas e enrijecidas dentro de nós e renascemos em novos tempos. A morte não se dá apenas no campo físico, quando o sopro vital nos abandona. A morte representa a possibilidade de vivermos tantas vidas quanto as que conseguirmos recriar dentro de cada um de nós. Quanta gente eu vi remoçar, rejuvenescer, ao se ver livre de pesados fardos de parentes parasitários ou de relações apodrecidas. Nasceram de novo.

Para a planta nascer, existe a morte da semente, para o fruto nascer ocorre a morte da flor, para a nova semente parir é necessário a morte do fruto e da velha árvore. O espermatozóide dá lugar ao embrião que dá lugar ao feto e assim é a vida num processo interminável de vidas, mortes e renascimentos transformados. A vida vive da vida. A vida come vida!

Tudo ou nada, mais do que um pensar, mais do que um desejar, é a constatação da única fórmula de estar vivo em coerência com os princípios naturais. Se não conseguimos viver nossos tempos de tudo ou nada, estamos ampliando a morte que vive dentro de nós. Estamos no pior das sensações de semivida. Decida o “tudo ou nada” na sua hora, no seu tempo...

Geraldo Vandré nos estimulava para o nosso tudo ou nada político dos anos 60 com o refrão "quem sabe faz a hora não espera acontecer", da canção "Pra não dizer que não falei das flores". Porém, o que os censores e quase ninguém compreendia é que essa convocação era muito mais ampla do que um grito da revolução dos ideais. "Tudo ou nada" é a convocação para vivermos com intensidade todas as vidas para as quais fomos potencializados para viver.

Tudo ou nada: esse é o seu já, o seu daqui a pouco, mas jamais - por medo ou covardia - uma impossibilidade para viver todas as vidas que vivem dentro da sua vida.